Se teu corpo já não fornece pudor
E a carne dilacerada te serra
Num canto provido de horror
Te cerca de tua cova e enterra
Com os olhos da cara no teu Senhor!
E se a cruz não derrama
Sobre teus pés cravados em terra
A luz pela qual clama
E o alívio pelo qual berra
Senta e aguarda o colapso da guerra
E se o livro já não te conduz
E se até o risonho sol em ti erra
Finge amar a chama que o seduz
E verás que esta porta a ti emperra
Privando de teu rosto, frestas de luz
Se a alavanca teu peito estremece
E o sal já empedrefica tua alma
Se mais rápido o dia envelhece
A superfície da sua palma
Que cortou e feriu para que obtivesse
A estúpida retórica que o mundo traduz
Na tua língua já vem preenchida de pus
O céu já derrama feridas abertas
E teus filhos amanhã, terão menos alertas
Se a pedra, a primeira de fato, não te ergue
E mesmo empilhada, apresenta-te a morte
Recorre a teu início, compare e enxergue
Quanto profundo, na garganta teu corte
Mas se o diário escrito há milênios
Já censurado e soprado aos ventos
Não inspira nem magos nem gênios
E aposenta-se em hospícios e conventos
Busca tua cova e aos prantos sepulta
Teus pulsos marcados pela surra e a labuta
Que em nada demais na vida resulta
Se não no verme, na coisa que mata, a luta
E se não vem a teu sangue circular vossa febre
E se não alimenta teu estômago com tua caça
Por que não cai tormento que a quebre
Sobre o cálice milenar, a taça
E de vez já não se admite pior raça
A habitar infecto casebre
Sente na pele o ferro partir vossos ossos
E vê todas as crias empilhadas em fossos
Vê criaturas puras, sedentas e famintas
E lembre-se que se possuem donos, não nossos
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