Se teu corpo já não fornece pudor
E a carne dilacerada te serra
Num canto provido de horror
Te cerca de tua cova e enterra
Com os olhos da cara no teu Senhor!
E se a cruz não derrama
Sobre teus pés cravados em terra
A luz pela qual clama
E o alívio pelo qual berra
Senta e aguarda o colapso da guerra
E se o livro já não te conduz
E se até o risonho sol em ti erra
Finge amar a chama que o seduz
E verás que esta porta a ti emperra
Privando de teu rosto, frestas de luz
Se a alavanca teu peito estremece
E o sal já empedrefica tua alma
Se mais rápido o dia envelhece
A superfície da sua palma
Que cortou e feriu para que obtivesse
A estúpida retórica que o mundo traduz
Na tua língua já vem preenchida de pus
O céu já derrama feridas abertas
E teus filhos amanhã, terão menos alertas
Se a pedra, a primeira de fato, não te ergue
E mesmo empilhada, apresenta-te a morte
Recorre a teu início, compare e enxergue
Quanto profundo, na garganta teu corte
Mas se o diário escrito há milênios
Já censurado e soprado aos ventos
Não inspira nem magos nem gênios
E aposenta-se em hospícios e conventos
Busca tua cova e aos prantos sepulta
Teus pulsos marcados pela surra e a labuta
Que em nada demais na vida resulta
Se não no verme, na coisa que mata, a luta
E se não vem a teu sangue circular vossa febre
E se não alimenta teu estômago com tua caça
Por que não cai tormento que a quebre
Sobre o cálice milenar, a taça
E de vez já não se admite pior raça
A habitar infecto casebre
Sente na pele o ferro partir vossos ossos
E vê todas as crias empilhadas em fossos
Vê criaturas puras, sedentas e famintas
E lembre-se que se possuem donos, não nossos
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Uní-vos!
Levantai-vos irmãos
Da crença dos novos
em todos os povos
que se dizem cristãos
E ao passo da cova
Os chutais como cães
que a honra renova
a farejar alguns pães
e de barriga vazia
lhe implorais perdão
pelo ronco que fazia
tão alto e em vão
Bata no peito
e diga seu nome
ganhando o respeito
da dor e da fome
Erga a cabeça
e levante espada
à ela obedeça
seca ou molhada
do sangue quente
da gente tua
nascida indigente
e morta na rua
Descubra a palavra
por trás do sermão
que esconde a lavra
seu ralo tustão
estende com a mão
a ordem e o progresso
e se estás pelo chão
só isto vos peço
Dos homens cristãos
na crença dos novos
de todos os povos
Levantai-vos irmãos!
Da crença dos novos
em todos os povos
que se dizem cristãos
E ao passo da cova
Os chutais como cães
que a honra renova
a farejar alguns pães
e de barriga vazia
lhe implorais perdão
pelo ronco que fazia
tão alto e em vão
Bata no peito
e diga seu nome
ganhando o respeito
da dor e da fome
Erga a cabeça
e levante espada
à ela obedeça
seca ou molhada
do sangue quente
da gente tua
nascida indigente
e morta na rua
Descubra a palavra
por trás do sermão
que esconde a lavra
seu ralo tustão
estende com a mão
a ordem e o progresso
e se estás pelo chão
só isto vos peço
Dos homens cristãos
na crença dos novos
de todos os povos
Levantai-vos irmãos!
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Em vão
Diz-me pequena, nova e casta
Pra quê?
Pra dar a alguém a quem não lhe basta?
Diz-me fraca, ingênua, burra...
Uma face tênua, forte, turra
Pra dar prum corpo que se arrasta?
Pra quê?
Pra dar a alguém a quem não lhe basta?
Diz-me fraca, ingênua, burra...
Uma face tênua, forte, turra
Pra dar prum corpo que se arrasta?
domingo, 21 de dezembro de 2008
Para aqueles que desejarem ver seus textos de gavetas no site, ou ainda manter contato para conversas sobre literatura e arte, escreva: jo.garoto@hotmail.com
Dia a dia
Depois das sete eu recolho o lixo
Eu recolho o pão
Desço as escadas, passo o portão
Fujo do cachorro mordendo meu pé
Fujo sem noção
Eu ponho a carne no molho, eu refresco os cães
Dobro duas esquinas e percebo a guerra
Dos padeiros com os pães
Dos pedreiros com os tijolos
Dos padres com as batinas
Dos meridianos com os pólos
Dos tira-colos frescos, dos sub-solos
Depois das oito eu refugo as chaves
Eu martelo à mão
Subo as escadas, namorando o corrimão
Penso na nação
Eu como a carne dura, eu embebedo os cães
Prego dois quadros e desejo em vão
só pensamentos animados no verão
só amores acabados pelo chão
só rosas murchas num botão
só ventos mornos sem tufão
só versos amarelos no coração
Eu recolho o pão
Desço as escadas, passo o portão
Fujo do cachorro mordendo meu pé
Fujo sem noção
Eu ponho a carne no molho, eu refresco os cães
Dobro duas esquinas e percebo a guerra
Dos padeiros com os pães
Dos pedreiros com os tijolos
Dos padres com as batinas
Dos meridianos com os pólos
Dos tira-colos frescos, dos sub-solos
Depois das oito eu refugo as chaves
Eu martelo à mão
Subo as escadas, namorando o corrimão
Penso na nação
Eu como a carne dura, eu embebedo os cães
Prego dois quadros e desejo em vão
só pensamentos animados no verão
só amores acabados pelo chão
só rosas murchas num botão
só ventos mornos sem tufão
só versos amarelos no coração
Literatura de Brochura
O que podemos entender como Literatura de Brochura?
A literatura de brochura é justamente aquela que é escrita em cadernos de brochura por milhares de pessoas que embora autores por ofício não possuem obras publicadas. O objetivo desse Blog é divulgar exemplos de textos de qualidades e disponibilizar espaço para esses escritores.
Autor do Blog
Escrevo poesia desde que aprendi a escrecer. Em 1998 passei a integrar o grupo teatral Ta'Lento de Americana-SP, nele permanecendo por três anos e no qual participei de alguns espetáculos teatrais. Essa participação modesta me instigou a traçar caminho também pela dramaturgia, arriscando algumas linhas nesse campo misterioso e fascinante. Recentemente, me formei em Letras pela Faculdade de Americana e criei esse Blog para dividir algumas experiências e compartilhar alguns textos, além de possibilitar o contato e a integração entre pessoas que se vejam diante da mesma condição de servir à literatura.
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